NÚCLEO DE ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO

UM JEITO DE SER



Albertina de Mattos Chraim - Psicopedagoga



Fabiane Baptistoti Sá - Fonoaudióloga




Márcia Batiston - Psicóloga







terça-feira, 20 de julho de 2010

AS MORDIDAS DA ESCOLA

Com muita frequencia encontramos queixas de pais que, ao buscarem seus filhos na escola os encontram mordidos por algum coleguinha. Geralmente são crianças pequenas, que estão aprendendo a dividir seu espaço com outras crianças da mesma idade.
Nesse período estão aperfeiçoando seus sentidos e agora fora dos cuidados dos pais e precisando dividir a atenção dos adultos com outras crianças.
Não é fácil para os pais assimilarem essas mordidas sem mágoa ou indignação de alguém, que não se conforma com a situação, ao ver seu filho tão desprotegido, agora marcado pelos dentes de um colega. Tão desagradável quanto, é a situação dos pais da criança que morde. E assim, uma cascata de cobranças começa em cima da escola, por não ter profissionais suficientes para contornar a situação. E se tem, não estavam atentos para evitarem as ocorrências. Vale lembrar que as crianças estão em fase de amadurecimento e conseqüentemente estão aprendendo a exteriorizar suas angustias; medos, frustrações, anseios e descobertas.
Através do sistema nervoso central começam a aprimorar o tato, o olfato, o paladar, a visão, e a audição. Conseqüentemente com as novas descobertas aprendem a usar as mãos, os dentes, como instrumentos de defesa. Numa fase anterior, talvez tenha sido o choro o instrumento mais usado para marcar a atenção.
Não é fácil para a criança aprender a conviver com outras crianças da mesma faixa etária, que também disputam a mesma atenção.
A mordida faz parte dos mecanismos de defesas mais primitivos do homem. Quando a criança não consegue outra forma de comunicação, ou explorar o ambiente da forma que lhe agrada é possível que use esse artifício para marcar seu espaço. Cabem aos pais, professores, não supervalorizarem a mordida em si, e sim as causas que levaram uma criança a morder, e a outra a permitir ser mordida.
Quanto à escola, sabendo que está engajada com crianças que estão na fase de dividir, interagir, e se para nós adultos isso já não é tão simples, imaginem para uma criança. É necessário trabalhar de forma lúdica pedagógica os sentidos, os gostos, o afeto e a divisão de espaços necessários para uma boa convivência.
Acredito ainda, que os pais devam ficar cientes que isso é um fato comum nas salas de aula onde convivem crianças que estão ainda em fase de amadurecimento do Sistema Nervoso Central. Elas experimentam as reações dos outros através de suas ações e conseqüências. Os adultos necessitam usar de coerência e não supervaloriza a mordida. Muitas vezes, crianças que mordem na escola são crianças mais possessivas, que querem atenção exclusiva, filhos únicos, filhos de pais que estão em processo de separação, ou ainda crianças que estão com irmãozinhos recém nascidos em casa. De alguma forma ela precisa extravasar suas angustias e ansiedades. Como ainda não tem um repertório de vocabulário eficiente para comunicar-se utilizam o mecanismo da mordida como manifesto.
Um trabalho em grupo, com argila, onde se trabalha a função da boca, dos dentes, da língua, da saliva, dos lábios, etc., pode ser um dos instrumento pedagógico bastante eficaz. Desta forma ela vai assimilar as funções e conseqüentemente o professor vai poder interpretar melhor a conceito interior dos conflitos internos da criança...

A questão da mordida deve ser trabalhada dentro da escola. E as causas das mordidas precisam de uma avaliação mais minuciosa entre os pais e a equipe pedagógica, para juntos reconquistarem a harmonia entre os pequenos, os pais e a escola.
Vale lembrar que somos todos inocentes: tanto a criança que agride por meio da mordida, expressando seus conflitos internos, quanto à criança que não aprendeu seus mecanismos de defesas, assim como os pais que entram em angustias ao defenderem seus pequenos, quanto à escola que depara com essa situação e muitas vezes se sente impotente ao receber o rótulo de negligente. A coerência entre os adultos é a melhor forma de suavizar esses pequenos conflitos diante da vastidão de angustia do mundo dos adultos.

Albertina de Mattos Chraim
Psicopedagoga

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