NÚCLEO DE ATENÇÃO MULTIDISCIPLINAR DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO

UM JEITO DE SER



Albertina de Mattos Chraim - Psicopedagoga



Fabiane Baptistoti Sá - Fonoaudióloga




Márcia Batiston - Psicóloga







terça-feira, 20 de julho de 2010

FALAR REQUER RECONHECIMENTO DE SI MESMO

A criança que vem desenvolvendo-se naturalmente, sem intercorrências, em ritmo considerado normal para a sociedade em que vivemos não demanda olhares mais atenciosos daqueles que convivem com ela.
Porém, existe um universo de crianças que apesar de estarem se desenvolvendo muito bem organicamente (com boa saúde, inteligência) apresentam-se defasadas na sua comunicação.
Tem sido comum a busca constante por explicações que justifiquem tal descompasso, mas poucos argumentos têm conseguido abrandar a angustia de pais e/ou responsáveis.
Vou tentar traçar meu argumento baseado no que tenho observado em consultório, principalmente em se tratando de uma clientela que tem vindo cada vez mais cedo para avaliação e permanecido para tratamento fonoaudiológico.
Normalmente por volta dos três anos de idade uma criança já se comunica bem, ou seja, consegue através da fala expressar-se construindo frases de pelo menos três palavras inteligíveis. Porém em meio a este público há crianças que apesar de falar, usar o modo verbal de comunicação, parece não estar realizando essa comunicação de modo eficiente.
A falta de FORMA das palavras os chamados jargões, as palavras ditas de modo DISTORCIDO e até mesmo a AUSÊNCIA de alguns sons parece fazer parte dessa comunicação complicada.
Em outro momento já discorri sobre a importância do amadurecimento dos Órgãos Fonoarticulatórios (lábios, língua, dentes, bochecha, palato duro e mole, principalmente) para a boa articulação, assim como também já ressaltei a importância do enriquecimento do léxico por parte daqueles que convivem com as crianças, nomeando á elas tudo que está sendo negociado. Portanto hoje vou me preocupar apenas em discorrer sobre outros quesitos para o desenvolvimento de uma boa comunicação que é o reconhecimento de si mesmo.
Alguns estudiosos do desenvolvimento infantil, já colocaram a partir de seus estudos que uma criança só evolui cognitivamente a partir do momento que ela começa a descentrar-se do outro, conseguindo olhar para si e se descobrindo como alguém que age e interage no meio e com os outros.
Dentro desse pensamento abordo dois aspectos bastante importantes que são:
1) Organização do esquema corporal: o que é esquema corporal? Poderíamos dizer simplesmente que é identificar as partes do corpo. Lanço então um questionamento que torna essa simples identificação algo mais profundo para o desenvolvimento de uma criança: é apenas identificar ou reconhecer em si e no outro? Para que uma criança consiga identificar e reconhecer as partes do corpo é necessário que o outro tenha nomeado as parte de seu corpo, mostrado a ela, mostrado em si mesmo. Parece algo simples, mas não é! A criança que tem apresentado esse descompasso no desenvolvimento da comunicação tem de certa forma mostrado não identificar suas partes corporais, não sabe expressar essas formas através de desenho e conseqüentemente não sabe reconhecer-se nesse corpo. Se eu não me reconheço como um corpo que é algo palpável e visível como posso me reconhecer como um falante que é algo que se constitui na subjetividade?
2) Identificar o outro como falante: uma criança só passa a se perceber como falante se ela consegue se olhar no outro, como uma posição de espelhamento a fala do outro. Se uma criança não demonstra atenção à fala do outro, dificilmente vai ser permeável a correções na sua fala, permeável a imitações da fala do outro. Benveniste diz em um de seus estudos: eu não me torno EU enquanto não entender o outro como TU (transcrição minha) e pela teoria da análise do discurso, a fala de uma criança é constituída dos fragmentos que saem da boca do outro numa forma de captura. É como se a criança capturasse o que o adulto diz para poder constituir-se como falante. Porém para que essa captura possa acontecer a criança precisa prestar atenção à fala do outro. Percebemos quando uma criança identifica-se como falante quando ela passa de mera espectadora da fala do outro à posição de interlocutora.
Diante dessa breve exposição, minha proposta é chamar a atenção dos pais para que passem a ser espelhos de suas crianças, auxiliando-as no processo não só de fala, mas antes disso fazendo-as exercitarem seu conhecimento sobre si mesmo.

Fga. Fabiane Klann Baptistoti Sà

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